sábado, 31 de maio de 2025

Mesa debate contratação de jornalistas e desafios da profissão no segundo dia do Congresso

Na manhã deste sábado (31), no Hotel Sonata de Iracema, em Fortaleza, teve início o segundo dia do XII Congresso de Jornalistas do Ceará, que este ano tem como tema “Quem Informa o Ceará Somos Nós”. Promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o evento reúne jornalistas de diversas regiões em torno de debates centrais sobre a profissão.

Abrindo a programação, a mesa “O Trabalho do Jornalista Hoje: Vínculos, Precarização e Resistência” contou com a participação de Samira de Castro, secretária de comunicação do Sindjorce e presidenta da Fenaj; Fernando Lima, economista e supervisor técnico do Escritório Regional do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese); e mediação de Ângela Marinho, jornalista e presidenta da Comissão de Ética do Sindjorce.

Fernando Lima iniciou a exposição com um panorama histórico da ocupação de jornalistas no Brasil desde 2013. Segundo ele, os profissionais que ingressam no mercado atualmente são exigidos a desempenhar múltiplas funções, mas isso não tem se refletido em valorização salarial.

“O profissional contratado nos últimos anos precisa ser múltiplo, mas isso nem sempre se reflete positivamente na carreira. Não se ganha mais por fazer mais”, afirmou.

Ele relaciona esse cenário às mudanças provocadas pela Reforma Trabalhista e a eventos marcantes, como a pandemia de Covid-19.

Fernando Lima também destacou que, apesar de haver um crescimento no número de postos de trabalho para jornalistas na região Nordeste, os dados apontam uma queda nacional. No Ceará, entre 2013 e 2023, houve uma redução de 11,55% nas vagas formais da área. A pesquisa mostra ainda que 40,1% dos profissionais atuam em assessorias de imprensa, 11,7% como jornalistas em geral, 10,3% como editores, 9,2% como revisores, 7% como repórteres de rádio e TV e 7% como diretores de redação — sendo que 90% desses profissionais possuem ensino superior completo, ou seja, são diplomados.

O estudo também revela que o salário médio de admissão para jornalistas, entre 2024 e 2025, é de R$ 4.231,86 no Brasil, enquanto no Ceará, no mesmo período, esse valor é de R$ 3.538,26.

Samira de Castro reforçou que a luta histórica da categoria inclui o reconhecimento de que assessores de imprensa devem ser jornalistas. Dados de 2023, apresentados na mesa, mostram que 40,1% dos jornalistas cearenses atuam em assessorias de imprensa. Ela também abordou a crescente pejotização na área.

“Hoje, há quase a mesma quantidade de MEIs, que podem ser de jornalistas, quanto de empregos formais. Esse modelo se tornou, muitas vezes, uma forma de escamotear o vínculo empregatício”, explicou.

Samira de Castro também denunciou que muitas empresas têm exigido a abertura de MEI como condição para contratação, impondo aos profissionais obrigações e rotinas compatíveis com o regime celetista, mas sem os direitos assegurados por ele. “É uma negativa de direitos aos trabalhadores”, afirmou.

A presidenta da FENAJ destacou ainda que o jornalismo continua existindo, mas sob novas formas de contratação. “A nossa matéria-prima é a informação de relevância e interesse público: o fato”, afirmou. E complementou: “Não há desaparecimento da categoria, mas os profissionais estão sendo contratados em outras modalidades”. Segundo ela, trata-se de um fenômeno generalizado no mercado de trabalho, que também afeta diversas outras categorias.

Todos os dados apresentados na mesa são do Dieese e revelam um panorama detalhado da atuação da categoria no Brasil e no Ceará, reforçando a urgência do debate sobre valorização, direitos e condições de trabalho no jornalismo. Por Igor Thawen, Foto: Thainá Duete.

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