Ela percebera um interesse incurial, mulher tem enorme esperteza em algo que rumina desde seus primeiros dias de consciência sobre um aspecto essencial de suas vidas. Ocorre que ele era o chefe geral e emprego no Brasil não é banana.
Num determinado dia ele marcou uma reunião direta só com ela, embora suas relações operacionais na empresa não fossem imediatas. Claro, todas as suas antenas foram acionadas para fugir de eventual assédio, muito embora todos o tivessem em alta consideração como um homem de conduta morigerada e íntegra. Mas, sabia ela, nas coisas do amor não havia limites. E ela tinha de impor limites, era bem casada e não sentiu nenhuma atração pelo bom chefe.
Passou a madrugada inteira a elucubrar como sairia daquela enrascada, evidentemente sem contar nada ao marido. Lá pelas três horas da madrugada, veio uma luz, duvidosa, arriscada, mas a única. Resolveu aplicar o método.
Após alguns minutos em que o chefe suscitou temas fora do lugar, ela ouviu um elogio às suas qualidades pessoais. Não teve dúvidas. Agradeceu e meteu os dedos, sucessivamente, nas duas narinas. Um, dois, três, quatro, cinco, até o polegar. As bactérias que habitam nossos condutos respiratórios entraram em crise, jamais tinham sido agredidas em tamanha proporção. O chefe não demorou muito para encerrar a reunião e o asco ressumava de seus olhos estupefatos.
Ela não foi despedida. O chefe percebeu tudo, era um homem culto e de bom caráter, que simplesmente não conteve instintos primitivos. Via-a sempre, no trabalho e nunca revolvendo as fossas nasais. Entendia de resistência e compreendia.
Ficou o exemplo. As trincheiras da resistência são trincheiras, sempre insalubres e asquerosas. Ao mesmo tempo, são necessárias e nobres, por suas finalidades. Não raro, para sustentar uma causa, coletiva ou pessoal, não temos alternativas, senão recorrer a expedientes insólitos, a partir dos próprios instrumentos corporais que Deus disponibilizou quando nos fez.
Amadeu Garrido de Paula, é Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.
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