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segunda-feira, 11 de março de 2013

Decifra-me ou te devoro...

Há dentro de nós uma região pouco visitada, que muitos preferem não penetrar. Um verdadeiro labirinto, espécie de abismo que chega a nos amedrontar. A esfinge de Tebas ainda nos causa pavor embora seu enigma tenha sido desvendado; perdura no homem (enigma outrora decifrado) sua natureza enigmática - outra esfinge, muito pouco compreendida que fica a desafiar constantemente o ser humano. 

Desde o nascimento até a morte, o homem vive envolto em mistério. Ele sabe muito do que está fora dele (ciências, filosofia, política, religião, tecnologia), no entanto conhece muito pouco de si mesmo. O enigma é nosso interior, é nossa psique. Quantos dragões nos devoram todos os dias! Não sabemos como enfrentá-los. São poderosos demais, se alimentam de nossa energia, habitam o nosso ser, se escondem nos porões do inconsciente. De repente as sombras nos povoam e aceleram nossa ignorância. 

Não há tempo para a contemplação, a introspecção, o mergulho nos esconderijos da mente humana. Sem falar que isso também pode ser perigoso, frente a frente com os defeitos, com a imundície de nossos pensamentos, com a parte obscura, pantanosa, temível. Uma região tão assim assustadoramente complexa quem livremente desejaria conhecer?

Há quem diga que viveríamos melhores se visitássemos mais vezes o íntimo do nosso ser e saíssemos a passeio pela nossa mente. Entenderíamos complacentemente nossos medos, perturbações, fantasmas, traumas. Decifraríamos nossos enigmas e não seriamos devorados pelos monstros que perscrutam as noites, os sonhos e aterrorizam nossa paz. 

Uma estranheza (de nós mesmos) nos habita “uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza, solidão”, assim diz o poeta. O que é estranho foge da ordem, do controle, da lógica. Nosso imaginário dispõe de uma força psíquica que evolui quando acionada (e nós nos negamos a esse exercício). E o poeta volta a falar “traduzir-se uma parte na outra parte – que é uma questão de vida ou morte – será arte?”.

A esfinge devoradora cotidianamente nos engole, não deciframos todas as partes do nosso ser (um reino misterioso), continuamos aflitos, ansiosos, cheios de medo e superstições aterrorizantes. A parte obscura está lá no porão, nos causando delírio, vertigem, e vez por outra, quando menos esperamos, nos visita. Ao entrar no nosso sono simbolicamente diz quem somos nós. 

Acaso existirá alguém (outro Édipo) que possa corajosamente enfrentar a esfinge não mais tebana, mas psíquica? Tal ação resultaria na motivação de atitudes positivas, nos mostrando que tudo está dentro de nós, só nos resta conhecer e ouvir o que nos quer dizer, como nos fala Deus e a natureza. O grande lance, caro leitor, é saber que há um lugar de repouso dentro de você mesmo.
Texto da professora Socorro Pinheiro Pinheiro.

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