Margarete
 Pinheiro abraçou os filhos e o marido. Seu bebê tinha só três meses 
quando descobriu que tinha miocardiopatia periparto Foto: Kiko Silva
Depois
 de cinco meses internada no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto 
Studart Gomes, longe da família e de sua cidade natal, Solonópole, 
situada a 272 Km da Capital, a sensação da agricultora Francisca 
Margarete Pinheiro da Silva, 27 anos, é de ter nascido de novo. Por 
causa de uma miocardiopatia periparto, problema cardíaco decorrente do 
parto, ela teve de passar 43 dias com um coração artificial, utilizando 
duas bombas centrífugas por levitação, uma para cada parte do coração.
Extrapolada
 a vida útil da assistência circulatória mecânica, que é de 30 dias, e 
quando as suas esperanças já tinham praticamente se esgotado, 
finalmente, apareceu um doador compatível e ela pôde fazer o tão sonhado
 transplante de coração, que lhe permitiria continuar viva. Ontem, 29 
dias após a cirurgia, ela reencontrou, emocionada, a mãe, a irmã, o 
marido e os dois filhos. O mais novo, hoje com nove meses, tinha só três
 quando ela descobriu a doença.
"Sinto-me bem depois do 
transplante e feliz. Foi uma graça de Deus. Cheguei a achar que não ia 
dar certo. O processo era lento. Uma coisa eu aprendi: tudo tem a sua 
hora certa e, a minha, foi na hora que Deus quis. Só tenho muito a 
agradecer a Deus e às pessoas do hospital. Eu fui tratada como uma 
rainha aqui", agradece, empolgada.
Juan Mejia, coordenador 
cirúrgico da Unidade de Transplante Cardíaco do Hospital de Messejana, 
comenta que a miocardiopatia periparto é uma doença rara, que acomete 
menos de 1% das gestantes durante o parto. João David de Souza Neto, 
coordenador da Unidade de Transplante, explica que algumas pacientes 
podem desenvolver a doença e não formar um quadro grave de insuficiência
 cardíaca, então, o problema se resolve espontaneamente. Entretanto, 
isso varia muito conforme a imunidade de cada mulher.
"O processo
 de miocardiopatia periparto ainda é muito controverso. Não existe uma 
diretriz que diga que tal remédio é bom para o tratamento. Depende da 
situação imunológica da paciente", esclarece.
No caso de 
Margarete, como a insuficiência cardíaca piorava gradativamente, ela 
recebeu indicação para o transplante. Mal-estar, cansaço, falta de ar, 
ânsia de vômito e inchaço geral foram alguns sintomas que sentia. "Eu 
não tinha vontade de me alimentar e não conseguia dormir com o cansaço",
 ressalta. Passado o susto, ontem, ela só pensava em ir para casa. 
"Ainda vai demorar um pouco, mas agora sei que vou", frisa. Seus planos 
são de cuidar dos filhos e ser feliz.
Só neste ano, seis 
transplantes de coração foram realizados no Hospital de Messejana. Desde
 1999, quando o procedimento foi implantado, ocorreram 280 transplantes 
de coração, sendo o de Margarete o terceiro nas condições de 
miocardiopatia periparto e o nono que utilizou o dispositivo de coração 
artificial. Dez pessoas continuam internadas na unidade à espera de um 
transplante de coração, das quais cinco são crianças.
De acordo 
com a Central de Transplantes do Ceará, 12 pessoas estão na fila, à 
espera por um coração. Em primeiro lugar no ranking está córnea, com 503
 pessoas na lista, seguido de rim (308), fígado (134), coração (12), 
medula óssea (8) e pâncreas (1), totalizando 972. O número de 
transplantes realizados neste ano é de 298, sendo 152 de córnea, 69 de 
rim, 48 fígado, nove de medula óssea, sete de rins/pâncreas, seis de 
coração, três de esclera, dois de pulmão e um pâncreas isolado.
Doe de Coração - Criada
 em 2003, pela Fundação Edson Queiroz, a campanha Doe de Coração, que 
neste ano chega à sua 10ª edição, faz a diferença no incentivo à doação 
de órgão no Ceará. Através de anúncios em veículos de comunicação, 
distribuição de cartilhas, cartazes e camisas, o movimento sensibiliza a
 população para a importância de quebrar as barreiras do preconceito e 
doar órgãos.
O passo principal para se tornar um doador é 
conversar com a família e deixar claro o desejo. Não é necessário 
autorizar nada por escrito. A doação de órgãos ocorrerá a partir do 
momento da constatação da morte encefálica. Em alguns casos, pode ser 
realizada também em vida.
LUANA LIMA - REPÓRTER DN.
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