Há
três meses, Cícero Eloia da Silva, (Foto por Benedito Braga), de 42 anos, era apenas um homem sem
nome, sem endereço e sem família, que perambulava pelas ruas da capital e
acabou atropelado no Jardim América. Hoje, ele volta à Santana do
Cariri (CE), e reencontra o pai e os irmãos que deixou para trás há 21
anos – 15 deles, sem qualquer tipo de comunicação – quando foi tentar a
vida em São Paulo.
“Durante
os seis primeiros anos, ele mantinha contato com os familiares e até
mandava parte do dinheiro que ganhava, como servente de pedreiro e,
depois, como porteiro”, conta o secretário de Assistência Social de
Santana do Cariri, Pedro Salviano Ferreira, que, hoje, leva Cícero de
volta para a terra natal, sob grande expectativa da cidade de 17 mil
habitantes. Pedro viajou, de carro – um Fiat Uno, de sua propriedade –,
acompanhado de um motorista, cerca de 2 mil quilômetros para buscar o
conterrâneo. Vivendo, aqui, em situação de rua, Cícero foi atropelado no
dia 17 de julho e, com uma fratura no fêmur, acabou encaminhado ao
Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde ficou internado até ontem.
Sem documento e com transtornos mentais,
que o impedem de falar, ele foi acolhido pelas equipes de Assistência
Social e de Psicologia do hospital, que, paralelamente ao tratamento
médico – incluindo uma cirurgia na perna –, não mediram esforços para
encontrar meios de devolver a identidade ao paciente. “Ele articulava
poucas palavras, desconexas, mas repetia sempre, entre elas, as palavras
Cícero, Santana e Ceará. Foi a partir daí que começamos a nossa busca”,
relata Elisa Crispim Paulino Baiocchi, coordenadora do Serviço Social
do Hugo. O trabalho interdisciplinar com o paciente possibilitou chegar à
conclusão de que, além da fratura, ele apresentava problema
psiquiátrico é precisava ser medicado adequadamente. “A hipótese é de
esquizofrenia”, diz a residente em Psicologia, Fernanda Meira.
Na Enfermaria do Hugo, onde Cícero foi
acomodado, outros dois pacientes que o ladeavam e com ele conviviam
durante todo o tempo, auxiliaram as equipes a descobrir detalhes que
pudessem ajudar na busca pelas origens do cearense. Por meio de
pesquisas na internet, o Serviço Social do hospital chegou às cidades de
Santana do Acaraú e Santana do Cariri e, enfim, fez contatos com as
prefeituras sobre o paciente.
“Com a realização de exame de
datiloscopia – processo de identificação humana pelas impressões
digitais –, conseguimos chegar aos nomes dos genitores do paciente e a
prefeitura de Santana do Cariri encontrou sua família”, diz Elisa
Baiocchi.
Segundo o vereador e secretário de
Assistência Social do município cearense, Pedro Salviano Ferreira, todos
imaginavam que Cícero estivesse morto. Simples, a família vive da
agricultura; o pai – José Eloia da Silva, analfabeto, de 71 anos,
completados ontem, viúvo há nove anos – e três irmãos.
“Eles se sentiram inseguros para fazer a
viagem. Por causa da falta de documentos, também não foi possível buscar
Cicinho (como é conhecido o paciente do Hugo) de avião. A solução foi
vir de carro”, destaca Pedro, lembrando que os custos da viagem – cerca
de R$2,5 mil – foram bancados, particularmente, pela prefeita Danieli de
Abreu Machado e outros quatro vereadores – João Paulo Cabral, Robério
Idelfino, Antônio do Sindicato e Juracildo Fernandes –, além dele
próprio. “Estamos providenciando os documentos de Cícero e nos
responsabilizaremos pelos cuidados médicos que ele necessita.
Jornalista Amaury Alencar.
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